(em resposta a uma colorida colcha de retalhos recebida pelo correio)
Querida Marisse,
A colcha de retalhos chega em tão boa hora. Feita pra acolher e levar os pés ao chão. E ao colocá-los no chão, deixarmos trocar toda a energia que nos faz caminhar e querer viver um pouco mais e um pouco mais e um pouco mais.
Pensar na Olivia em meu colo, entre panos, pensar em estar com a Olivia pelo chão, na colcha de retalhos, é conectar-me com uma possibilidade imensa e feliz de ter mais uma vez a oportunidade de construir minhas raízes. De aprender a tê-las e fazê-las nascer.
O nome da Olívia, dos galhos retorcidos, das raízes antigas e profundas, é o meu nome de criança. Ter a Olívia nos braços, no meu corpo, é minha chance também de embalar a minha criança que vive lá dentro, de ensiná-la a por os pés no chão, de retorcer meus troncos, mais para o fundo da terra.
A maternidade é também minha oportunidade de criar em mim a minha criança que ficou lá atrás um pouco esquecida, que me vem com um força incontida e alegre, mas que me bate à porta com insistência pra cuidar do seu abandono.
Olívia está para chegar. E seja ela quem for, expresse ela o que puder e quiser, terá em mim os braços e o colo de quem deseja a ela que encontre suas raizes, e as saiba arrancar.
Olívia está para chegar. E sua chegada já regenera a minha criança de dentro. Aprenderemos juntas, se pudermos. E enquanto a observo nas suas escolhas de cheiros e solos, tateio meus escuros e aprendo também a me presentear com o tempo das minhas raízes.
Nós duas esperamos você (e a olívia que tem em você) e as suas olívias que você gerou e acolhe, para sentarmos todos na colcha de retalhos. No fundo de quintal, na frente do mar.
Da Olívia que tem em mim, e da Olívia que chegará em março.
Florianópolis, 04 de fevereiro de 2011.
3 comentários:
Que lindo!
Fiquei emocionado!
Camila é poesia!
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