12 de janeiro de 2010

A primeira música-poema do primeiro mês do primeiro ano



É sempre essa dança de recomeço, acompanhada de gozo e cansaço. É sempre essa possibilidade de recriar as teias e também de destruir os laços. É sempre esse novo desenho que tem gosto de volta e de partida. E nesses movimentos aparentemente tão desencontrados, eu aprendo novas palavras e torno outras mais belas.

As palavras, nossas donas. Quando comecei a andança soletrei a granada. E não esperava que o som dela me atropelasse e trouxesse consigo tanta força e destruição. Aprendi a palavra que me pronunciou.

Nesse recomeço as possibilidades de florescer e renascer caminham junto com minha nova cidade. E a palavra conhecida se torna mais bela.

Nessa viagem, em todas as viagens, eu preparo uma canção.


Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não se vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem anda ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

(Carlos Drummond de Andrade)
E belíssima música do Milton Nascimento.


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